JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE 2013
Foi com o carisma do Papa João Paulo II
que as Jornadas Mundiais e os Encontros Continentais de Jovens tomaram
grande impulso. Era pelos anos de 1984 e 1985. Mesmo que estas Jornadas e
Encontros não tenham exercido grande influência nos encontros orgânicos
da Pastoral Juvenil da América Latina, sempre foram importantes e não
podem ser esquecidos.
Realizaram-se, até 2010
,
27 Jornadas Mundiais da Juventude (14 diocesanas, sem a presença do
Papa) e 13 mundiais, com a presença do Papa: 10 de João Paulo II e 3 de
Bento XVI). Seis destas Jornadas, com a presença do Papa, deram-se na
Europa (Roma (2000), Santiago de Compostela (1989), Czestochowa (1991),
Paris, Colônia (2005) e Madrid); dois na América do Norte (Denver, 1993 e
Toronto 2002), um na América do Sul (Buenos Aires – 1987), um na Ásia
(Manila 1993, com mais de 4 milhões de jovens participantes) e um na
Austrália (Sidney). O Encontro Continental de Santiago (Chile) foi em
1998. É o Papa que indica os temas destas Jornadas.
O discurso a comandar tudo,
evidentemente, é Jesus Cristo. Contudo, na prática, quem toma conta do
cenário é o Papa, o bispo de Roma, talvez com o carisma de João Paulo
II, talvez com o peso teológico de Bento 16. Estaríamos muito errados se
se falasse de “papismo”? Ou este papismo (inconsciente ou buscado) é
construção dos Meios de Comunicação?
Impressiona a suntuosidade dos lugares
centrais destes Encontros. O palco, pode-se dizer, é transformado em
altar. Parecem as construções que os Meios de Comunicação constroem para
os grandes artistas… Lá em cima os cardeais, bispos, mais abaixo o
clero, mais longe as religiosas e, bem mais ao fundo, sempre animada, a
juventude. Da palavra, o que sobra para os jovens são as migalhas, isto
é, os cachorrinhos do Evangelho que estão aí para ouvir e não falar ou
falar o que pode ser dito.
O Papa mostrou, no avião, sua
preocupação com o desemprego juvenil (que chega a 45% na Espanha). Se
falou isso do avião, falou-o em outro momento importante? Redes
Cristianas, contrárias à pompa da visita, criticou o fato de que a
hierarquia eclesiástica não abrisse consultas aos jovens para saber o
que eles, realmente, querem na Espanha e no mundo. O que preocupa a
juventude do Papa? Dez peregrinos espanhóis enumeraram, na quinta-feira,
durante a espera, aqueles que consideravam os três principais problemas
de sua idade. Os que mais se repetiam: a falta de valores e o
relativismo. Apenas dois citaram o desemprego. E então? O perfil do
peregrino era um jovem de 22 anos, universitário e com trabalho. Apenas
6%, dos que estavam lá, estavam desempregados. Esta “seleção” parece
natural? Se os jovens do mundo representam mais de um hum bilhão de
jovens, o que significam 2 milhões. Mas, é verdade, qual a instituição,
no mundo, que é capaz de provocar um evento assim? Os dois milhões
reunidos em Madrid poderiam ser os grupos de jovens, reunindo-se
semanalmente, no Brasil…

O que se vê é que as preocupações das
JMJ se encontram em outros espaços… Que maravilha o Papa apresentar, nas
JMJ, os grandes desafios que os jovens devem enfrentar e que vão muito
além de uma visão umbilical e sacristíaca! Confiar a eles, os/as jovens,
o futuro da humanidade, isto é, de eles serem, de fato, com a ajuda da
Igreja, os construtores da civilização do amor, as sentinelas do amanhã,
como os dois Papas gostam de dizer. É que João Paulo II era um
encantado pela juventude, mas sabia muito bem que provocar demais
poderia ter resultados inesperados talvez para a própria Igreja. Não se
pode negar que João Paulo II (mais que Bento XVI) estava convencido de
que a juventude tem o poder de revolucionar o mundo, de mudá-lo para
faze-lo mais justo e humano, o que – para a sociedade dos adultos –
seria um atrevimento.
Para não nos basearmos em coisas
“vistas”, e analisarmos rapidamente o que foi a JMJ de Madrid, olhemos a
homilia que Bento 16 fez no dia 21 de agosto de 2011 na Base /aérea de
Quatro Ventos (Madrid). O que ele disse? Podemos destacar nove pontos:
“Meu coração enche-se de alegria” pensando no afeto com que Jesus olha para a juventude e deseja acompanhá-la no caminho. Desejamos corresponder a esta manifestação de predileção, atraídos pela figura de Cristo que queremos. Ele é a resposta a muitas de nossas inquietações pessoais e queremos conhecê-lo melhor.
O Papa está alegre. Fala de Jesus
Cristo. Ele (Jesus) é a resposta de nossas inquietações, mas logo fica
claro que as inquietações são pessoais. Parece falar para o jovem, e não
para a juventude. Parece que os milhões não existem ou não são
importantes para serem desafiados. Seria a atitude de Jesus com Pedro,
ao qual se dirigiu pessoalmente, como o Papa insiste logo depois? Os
jovens não só querem “conhecer” Jesus; eles querem vive-Lo e ser, como
Ele, blasfemos e subversivos.
O Evangelho que se leu Mt 16, 13-20. Há
duas formas diferentes de conhecer Cristo: pela exterioridade
caracterizada. Considera-se Cristo como um personagem religioso junto
aos que já são conhecidos. Depois, dirigindo-se pessoalmente aos
discípulos, Jesus pergunta-lhes:
E vós, quem dizeis que Eu sou?.
A fé vai mais longe que os simples dados
empíricos ou históricos, e é capaz de apreender o mistério da pessoa de
Cristo na sua profundidade.
Mais adiante o Papa diria: A resposta da
juventude deve ser: Jesus, eu sei que Tu és o Filho de Deus que deste a
tua vida por mim. Quero seguir-Te fielmente e deixar-me guiar pela tua
palavra. Tu conheces-me e amas-me. Eu confio em Ti e coloco nas tuas
mãos a minha vida inteira. Quero que sejas a força que me sustente, a
alegria que nunca me abandone. Veja-se a força bonita e apelativa da
“interioridade”.
Veja-se
a força da atitude pessoal. Além disso, contudo, o jovem não poderia
ser desafiado, para outras realidades, na sua vivência de fé, para que
participasse de organizações e de iniciativas dentro e fora da Igreja?
Certamente, mas o que parece assustar é a formação para a autonomia, o
empoderamento, o protagonismo. No fundo, não se acredita na força da
juventude; olha-se o jovem na sua individualidade e se teme o jovem que
pensa e sabe teologia. Quer-se um jovem que não deixe de ser obediente,
isto é, submisso e controlável.

A JMJ se deu numa época onde várias
realidades poderiam servir de fonte de inspiração: a juventude do
Oriente Médio, do Chile, da própria Espanha com mais de 46% de jovens
desempregados, de todos os continentes. Jesus Cristo não desafiaria para
estas diversas realidades? O que seriam para Ele, Jesus de Nazaré, as
“águas mais profundas”? Não. É a dimensão individual que parece
interessar, não a juventude com suas diversas problemáticas e diversos
desafios a serem enfrentados. Teria sentido recordar, aqui, a ausência
do “Reino de Deus” e da “Civilização do Amor”?
A fé, não é fruto do esforço do homem,
da sua razão, mas é um dom de Deus: Tem a sua origem na iniciativa de
Deus, que nos desvenda a sua intimidade e nos convida a participar da
sua própria vida divina. A fé não se limita a proporcionar alguma
informação sobre a identidade de Cristo, mas supõe uma relação pessoal
com Ele, a adesão de toda a pessoa, com a sua inteligência, vontade e
sentimentos, à manifestação que Deus faz de Si mesmo. Fé e seguimento de
Cristo estão intimamente relacionados, e isso precisa ser amadurecido.
A resposta da juventude deve ser: Jesus,
eu sei que Tu és o Filho de Deus que deste a tua vida por mim. Quero
seguir-Te fielmente e deixar-me guiar pela tua palavra. Tu conheces-me e
amas-me. Eu confio em Ti e coloco nas tuas mãos a minha vida inteira.
Quero que sejas a força que me sustente, a alegria que nunca me
abandone.
Veja-se o discurso… Terá mais sentido a
leitura que fazemos desse “personalismo” do Papa se nos dermos conta que
ele, o Papa, não parece estar muito preocupado com o Reino que Jesus
pregava… Afinal, Bento 16 prega a Igreja ou o Reino? Se falasse do
Reino, provavelmente teria que ter falado das realidades juvenis dos
diversos continentes e que vão além de uma fé individual. O que se vê,
por isso, é que a realidade social ou as realidades sociais da juventude
são esquecidas. Compreendemos, assim, porque a palavra Reino não
aparece na homilia vista (a mais importante) nem nas outras homilias ou
falas. O Reino é uma realidade que não só não é usada pelo Papa quando
fala aos jovens; no discurso inaugural que fez em Aparecida, na
Conferência Episcopal Latino-Americana (2007), sucedeu o mesmo.
Tratar-se-ia de um simples esquecimento ou de uma postura ideológica? É
que falando do Reino para os bispos ou para os jovens, haveria
conseqüências que parecem ser deixadas de lado porque a realidade mais
concreta, de repente, deveria ser enfrentada.
Jesus diz a Pedro que ele é a Pedra da
Igreja. Jesus constrói a Igreja sobre a rocha da fé de Pedro, que
confessa a divindade de Cristo. Ela não é uma simples instituição
humana, como outra qualquer, mas está intimamente unida a Deus. Não se
pode separar Cristo da Igreja, tal como não se pode separar a cabeça do
corpo (cf. 1 Cor 12, 12).
Evidente a forma de falar do papado, do
Papa como “Pedra da Igreja”. Claro que a Igreja caminha com Cristo e é
necessário estar na comunhão da Igreja. “Amai a Igreja”, dirá ele mais
adiante. É falta de respeito muito grande perguntar se o pregado
seguimento de Cristo é em vista da Igreja ou em vista da construção do
Reino? O importante é ver a juventude toda, de joelhos, adorando Cristo
presente na Eucaristia ou arregaçando as mangas, com a cruz na mão,
enfrentando as questões que impedem a felicidade dos/as jovens e da
sociedade?
Fortalecei, queridos jovens, esta fé que
nos tem sido transmitida desde os apóstolos, a colocar Cristo, Filho de
Deus, no centro da vossa vida. É preciso seguir Jesus na fé é caminhar
com Ele na comunhão da Igreja. Quem cede à tentação de seguir «por conta
sua» ou de viver a fé segundo a mentalidade individualista, corre o
risco de nunca encontrar Jesus Cristo, ou de acabar seguindo uma imagem
falsa d’Ele.
O assunto é a fé. A fé transmitida que é preciso viver, caminhando em comunhão com a Igreja. Mas o Papa diz mais:
Ter fé é apoiar-se na fé dos teus irmãos, e fazer com que a tua fé sirva também de apoio para a fé de outros. Queridos amigos, amai a Igreja, que vos gerou na fé, que vos ajudou a conhecer melhor Cristo, que vos fez descobrir a beleza do Seu amor. Significa feliz inserção nas paróquias, comunidades e movimentos, participar da Eucaristia, confessar-se e cultivar a oração e a meditação da Palavra de Deus.
Novamente o discurso do amor à Igreja
porque ela vos gerou para a fé, mas uma Igreja que ainda tem medo de ir
“além dela”. Poderia acrescentar que a fé para a qual ela gerou é para o
mundo, o Reino, ou é para ele poder mostrar-se que os jovens estão com
ela? Pode-se dizer que, infelizmente, a Igreja (nas JMJ) ainda visa
demais a si mesma. Procura-se a vaidade própria e não a felicidade das
juventudes.
Disso nascerá o impulso a dar testemunho
da fé nos mais diversos ambientes, incluindo nos lugares onde prevalece
a rejeição ou a indiferença. É impossível encontrar Cristo, e não O dar
a conhecer aos outros. Não guardeis Cristo para vós mesmos. Comunicai
aos outros a alegria da vossa fé. O mundo necessita do testemunho da
vossa fé. A vossa presença aqui é uma prova maravilhosa da fecundidade
do mandato de Cristo à Igreja: «Ide pelo mundo inteiro, proclamai o
Evangelho a toda a criatura» (Mc 16, 15). Sede discípulos e missionários
de Cristo noutras terras e países onde há multidões de jovens que
aspiram a coisas maiores.
Rezo por vós, encomendo-vos à Virgem
Maria, e peço-vos que rezeis pelo Papa, para que, como Sucessor de
Pedro, possa continuar confirmando na fé os seus irmãos. Que todos na
Igreja, cresçamos em santidade de vida e demos testemunho eficaz de que
Jesus Cristo é verdadeiramente o Filho de Deus, o Salvador de todos os
homens, fonte viva da esperança.
O convite para as intenções das orações
dos jovens vão para onde? Para a Virgem e para o Papa e todos nós.
Nenhuma oração para a transformação do mundo, do melhor atendimento aos
anseios da juventude, às fomes que existem na juventude etc.
Claro que o discurso é do Papa e poderia
te-lo feito em outras palavras. Mas o discurso não deixa de
sintomático: intra-eclesial, pessoal, sem a perspectiva do Reino… Por
que a juventude não poderia ser convocada a não só pertencer à Igreja,
mas serem construtores dela? Construtores dela e do Reino do qual a
Igreja é sacramento? Por que não apelar para que a juventude do mundo se
una, se organize, discuta seus problemas e apresente soluções juvenis,
aproveitando o momento das Jornadas?
Não entendo de mega-eventos, mas nos anos que precedem a JMJ precisam ser pensadas algumas coisas. Não falo, por exemplo, das finanças, para as quais, evidentemente, deverá ter gente competente e que saiba considerar o público ao qual a JMJ se dedica. Há questões de fundo: a questão central é na forma como se olha o próprio mundo juvenil e isso implica pedagogias e teologias.
- Apesar de ser uma iniciativa da Igreja de Roma, colaborar para que o jovem seja sujeito do evento. Num eventos de milhões, é evidente que sempre haverá movimentações. Movimentações para que, no entanto? O que havia para ver, ouvir, talvez participar? Shows de jovens, apresentações, encenações, algo de jovens, não de eclesiásticos. Complicado? Arriscado? Melhor arriscar do que manipular. A manipulação é descarada demais. A Igreja pode aparecer através da juventude, e não deixar que o clericalismo comande.
- Fazer uma preparação tal nos países e continentes que se discutam, realmente, a situação das juventudes em suas realidades mais diversas e que estas realidades tenham chance de serem visibilizadas. Quantas realidades bonitas e desafiadoras poderiam aparecer… No caso de Madrid, onde estava a realidade juvenil espanhola? Onde a realidade juvenil chilena? Onde a realidade da juventude do Oriente Médio? A preparação de espaços adequados claro que seria possível. Um mesmo espaço poderia servir de apresentação de diversas realidades em tempos diferentes. Há tanto jovem fazendo experiências missionárias… Por que isso não poderia ser socializado, debatido? Por que não ser uma forma de o jovem ser protagonista, também, nestas iniciativas?
- Precisa ser um momento de festa e de retiro. Os dois aspectos são importantes porque onde há juventude há festa. Mas isso não poderia ser vivenciado em momentos especiais? Com iniciativas especiais? Com atitudes especiais? Assim como é possível uma Eucaristia “campal”, porque não um retiro campal? Os espaços “menores” não poderiam servir para isso?
- Que fiquem claro os critérios de escolha dos delegados. Parece algo muito particular, mas a escolha dos “delegados” deveria ser feita com critérios transparentes. Que a Jornada seja, de alguma forma, “representativa” em termos de preocupações, realidades, organizações juvenis. Que os “espaços” já falassem por si: aqui é a realidade juvenil; aqui são os grandes desafios dos jovens; aqui são as experiências de organização; aqui quer-se discutir a força da juventude no mundo; etc.
- Que estejam envolvidas, também, pessoas que pensam realidade juvenil e evangelização juvenil. O estudo da juventude também é uma preocupação dos jovens, com sua história, cultura, apresentações científicas. Isso pode ser feito por jovens e por pessoas que estudam juventude. Por que não poderiam servir “teses”, apresentações, até encenações…
São, enfim, idéias que podem ser sempre
melhores… Importante que se fale disso. Uma Igreja se torna mais adulta
quando houver mais obediência e menos submissão. Que tal você continuar
esta reflexão iniciante? É que a JMJ do Rio de Janeiro deve ser sonhada
como um avanço em vista da juventude e em vista daquilo que acreditamos
como Igreja. Caso contrário, não será uma graça para ninguém.
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